18/03/10

A POESIA DE CATARINA NUNES DE ALMEIDA

Frotografia de Pat

Irei eu se ele for
na cavalgada.

Irei eu a galope em meus pés
veloz por entre as avezinhas
do fundo das águas-furtadas
em águas de lábios furtadas
veloz e espessa como a torrente
de um parto.

Irei eu em todas as minhas mãos
pégasos e ventanias
o corpo preso por um frio gentil
o corpo a tilintar de sonhos.

Serei eu o que ele for
na cavalgada.

Irei eu sem música sem mesa posta
dar-lhe prato verde
onde caibamos os dois dar-lhe
este emudecimento este abatimento cardíaco
da floresta.

x-x

Cântico dos Cântaros

Voltando um pouco atrás
à costura das fotografias
àquela escuridão pulmonar onde te vi
pela primeira vez onde eras
mais que certo quase cavalo
quase branco
a galope nos meus dentes.
Fotografias do tempo em que chamavas
árvore de rapina ao instrumento
que te educava os dedos.
Um dedilhar de amigo
à beira do vinhal.
Um encantar de amigo.

Se te deixasse ficar à sombra
haveria ainda as linhas da tua mão
tão irregulares tão imponderáveis
como a chuva nas boas noites.
Haveria ainda o perfume das grainhas
na primeira curva da manhã.
Era no tempo das fotografias.
Agora, dizes tu, há o orvalho dos murtais
um cesto silencioso e humano.

Nunca saberás que isso a que chamas
silêncio orvalho
eu chamo música
e toco-a.

(2 poemas de Catarina Nunes de Almeida)

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