23/09/10

Uma fábula de José Tolentino Mendonça

Fábula

Os animais interrompem sua marcha
julgam ouvir de repente um sino
debaixo d'água
por isso se estendem

muito longe, em auroras e ermos
quando os cremos ao nosso alcance
a atenção deles perfura
a fábula intransponível

nesse momento não vêem
dir-se-ia que nem adivinham
o fuzil de caça
os teus dedos azuis

(poema de José Tolentino Mendonça, in "O viajante sem sono"/ Assírio & Alvim)

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