18/09/13

Cadeiras muito especiais

 IN TEMPORAL


PRINCESA DE ÁFRICA

A Câmara Municipal de Paredes promoveu a exposição internacional Art on Chairs, na qual se insere o projeto DUETS convidando 11 personalidades representativas da sociedade contemporânea e 11 designers a um encontro que fornece o mote para o desenvolvimento de uma cadeira. 

Na próxima sessão do ciclo Quintas de Leitura ("A Carne do Poema" - dia 26 de setembro) Valter Hugo Mãe e Filipa Leal, estarão confortavelmente sentados nas cadeiras concebidas, respectivamente, para Manoel de Oliveira (primeira imagem) e Mia Couto (segunda imagem).


DUETS
Com o objetivo de valorizar a realidade territorial e produtiva de Paredes, caracterizada pelo uso intensivo da madeira e seus derivados e por uma elevada qualidade de fabrico, o projeto Duets convida 11 personalidades representativas da sociedade contemporânea e 11 designers a um encontro que fornece o mote para o desenvolvimento de uma cadeira. O resultado deste processo materializou-se em 11 objetos que traduzem o património cultural e a experiência de vida, quer da personalidade convidada, quer do designer que a interpreta, em diálogo com as práticas produtivas e de gestão das diferentes empresas do território de Paredes. De cariz exclusivamente humanitário, Duets evoca o tema da exposição “An idea for the world on a chair” através de 11 formas diferentes de entender o Design e de interpretar as personalidades, retratando-as de modo surpreendente. O resultado final é a prototipagem de 5 cadeiras para cada Dueto, sendo uma delas leiloada a favor do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O objetivo deste projeto, totalmente inovador e único, é o de angariar o máximo de fundos para ajudar o UNHCR/ACNUR a prestar assistência a milhares de refugiados em África que lutam cada dia para sobreviver às terríveis crises que decorrem atualmente no continente.
  
Personalidade: Manoel de Oliveira
Área Cinema
Designer Paolo Deganello
Empresa Viriato Hotel Concept

IN TEMPORA L
O cineasta de 103 anos pediu apenas “uma cadeira para pensar”. Depois de tudo ver e tudo ler repetidamente, o designer italiano Paolo Deganello, confesso admirador do realizador português, criou a “Intemporal”, uma ergonómica cadeira em madeira com diferentes inclinações e posições do apoio dos braços, realizada num
contraplacado flexível de bétula, produzido na Finlândia, pronta a ceder sob o peso e movimento do corpo graças a uma dobradiça de aço mola colocada no limite posterior do assento. Resultado de combinações improváveis de materiais e formas, um pouco como as personagens e histórias dos seus filmes, a cadeira incorpora linho,
sisal, palha, couro e alumínio que recriam o universo cinematográfico de Manoel de Oliveira. O encosto de cabeça, por exemplo, evoca uma rosa que Emma – personagem principal da obra prima Vale Abraão – acaricia repetidamente, relembrando o ventre materno. A complexa produção, tal a quantidade de desenhos e detalhes
técnicos, esteve a cargo da Viriato Hotel Concept. Como resumiu Deganello, esta não cadeira não é um produto, mas uma exercitação de design: o desenho de um utensílio experimental projetado para um único utente de exceção.


Personalidade: Mia Couto
Área Literatura
Designer Luigi Baroli
Empresa Zagas Móveis

PRINCESA DE ÁFRICA
“Somos feitos assim de espaçadas costelas, entremeadas de vãos para que o coração seja exposto e ferível”. A frase retirada do livro Princesa de África ofereceu ao designer italiano Luigi Baroli, galardoado com um Compasso D’Oro em 1994, presente na coleção permanente do MoMA de Nova Iorque, o pretexto do projeto: um corpo vulnerável entre as “intervaladas costelas” em preciosa madeira africana. Seduzido pela capacidade evocativa do poeta e das palavras que os seus livros transportam, a mão de Baroli esboça a mão de Mia, como na gravura de Escher: “Uma mão desenhando a outra”. A cadeira atravessa a respiração entre os dois. O escritor estende as linhas e o designer afina o espaço. E, assim, caminha o tempo e ganha forma o objeto de proporções inconstantes, realizado pela Zagas Móveis em delicadas ripas de mogno vermelho. A evocar a África móvel, mutável, a Terra Sonâmbula a partir da qual o poeta e romancista moçambicano nunca mais deixou a escrita.

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